Sinto perto de ti tantos encantamentos
Longe de ti sinto saudade imensa
Porque me encantas e ao mesmo tempo foges de mim
São coisas sem explicações
Amamos e nos queremos muito
Mas não conseguimos nos encontrar
Vamos para sempre juntos
Não podemos viver sozinhos
Porque são tantos sofrimentos
Eu sofro
E tu sofres
Vamos viver juntos
Vamos ser felizes
Gilmar Gusmão
Frase
"(...) Quem vai no chão de fábrica compreende melhor o que está acontecendo. Nada melhor do que conversar, escutar e olhar nos olhos de quem foi diretamente afetado (...)"
Romeu Zema Neto, governador do Estado de Minas Gerais, durante o lançamento da Campanha S.O.S. Chuva 2023-2024, a respeito dos atingidos por tragédias consideradas naturais na sociedade capitalista, como chuvas em áreas urbanizadas, rompimentos de barragens de rejeitos minerários e coronavírus
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Encantamento
"Das cidades que temos para as cidades que queremos". Esse foi o tema das Assembleias Populares (APs) na primeira década do século XXI. Procuramos, desde 03 de abril de 2008, blogar com os internautas. Valorizando o diálogo ecumênico, interreligioso e intercultural, o objetivo deste espaço virtual é incentivar as pessoas a sugerir modestas propostas sociais para evitar o fim da História.
quinta-feira, 11 de junho de 2020
Prontomente: uma história, várias vidas
“Meu
senhor, eu, entra ano,
Sai
ano, trabalho nisto;
Há
muito senhor humano,
Mas
o meu é nunca visto.
Pancada,
quando não vendo,
Pancada,
quando dói, que arde;
Se
vendo o que ando vendendo,
Pancada
por chegar tarde.”
Manuel Cabinda,
amigo de Lima Barreto
“Se
eu pudesse [...] se me fosse dado ter o dom completo de escritor, eu havia de
ser assim um Rousseau ao meu jeito, pregando à massa um ideal de vigor, de
violência, de força, de coragem calculada, que lhe corrigisse a bondade e a
doçura deprimente”
Lima Barreto em
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá
“O
álcool me provocava alucinações, eu incomodava os outros, metia-me em casas de
saúde ou no hospício, eu renascia, voltava, e assim levava uma vida insegura,
desgostosa e desgostando os outros”
Lima Barreto em
O Cemitério dos Vivos
Na
manhã de segunda-feira, 08 de junho de 2020, o Brasil amanheceu com mais de 37
mil mortes por Sars-Cov-2. No grupo da rede social virtual do facebook
denominado “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Leonardo Silva postou duas
imagens e convidou a todos a refletirem sobre elas. Era por volta de nove horas
e 30 minutos da manhã. “Bom Dia, Tripulantes! Este local fechado com tapumes é
a frente da antiga e atualmente fechada Clínica Psiquiátrica e de Repouso,
localizada na Rua dom Aristides de Araújo Pôrto [segundo bispo diocesano de
MOC], Bairro Alto São João, região do Parque de Exposições. Referência durante
anos no tratamento de internações psiquiátricas, ouvi dizer que seu fechamento
se deu, em parte, devido à pressão de movimentos antimanicomiais. Alguém se
lembra desse local e pode compartilhar conosco alguma história?”, propõe Silva.
O
Dia Nacional da Luta Antimanicomial é resgatado no dia 18 de maio, mesma data
da celebração contra o abuso e a exploração sexual infanto-juvenil. A data se
refere à atuação do médico italiano Franco Basaglia na década de 1960 em
Gorizia e Trieste, Itália, contra os serviços psiquiátricos vigentes e à favor
de uma reforma no setor. Remete também ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde
Mental ocorrido em 1987, em Bauru, interior do Estado de São Paulo, que
congregou 350 operários. Nesse mesmo ano, surgiria o Salão Nacional de Poesia
Psiu Poético, realizado anualmente em MOC sempre de 04 a 12 de outubro. A
Reforma Sanitária Brasileira resultaria na criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) em 1988.
De
20 de dezembro de 1978 a 1984, depois de desavenças no trabalho com um colega,
na antiga Biobrás, hoje Novo Nordisk, o bioquímico, vegano aos 25 anos e poeta
naturalista, Antônio Gilmar Maia Gusmão foi internado na instituição, onde
sofreu as maiores atrocidades que o deixaram com problemas na fala e no
pensamento. Flávio Muniz escreveu na sua primeira mensagem sobre o assunto.
“Hoje sou professor. Mas sou técnico em Enfermagem e trabalhei no Prontomente
em 1995 e 1996. Sobre histórias, tenho muitas, algumas impublicáveis. Foi o meu
primeiro emprego na Enfermagem. Gostaria muito de ter acesso aos registros para
desenvolver uma pesquisa histórica sobre este lugar”, expõe.
“Bacana!”,
exalta Leonardo Silva. “Cada coisa tem seu contexto. Não sei porque fechou, mas
a luta antimanicomial foi um avanço contra os tratamentos desumanos que havia
na Psiquiatria. Se você soubesse as práticas que eram consideradas ‘normais’,
jamais deixaria alguém que ama ser internado. Acredito que houve avanços.
Vários hospitais psiquiátricos se tornariam Hospital Dia ou Caps [Centros de
Atenção Psicossocial]. Internação psiquiátrica tem aspectos positivos, mas
muitos e muitos aspectos negativos”, considera o enfermeiro. “Acredito ter sido
uma grande perda para a Psiquiatria o seu fechamento, pois era uma referência”, lamenta Silva. “Obrigado pelas informações, meu amigo”, agradece. Joaninha Lima
entra na discussão. “Verdade! Também conheço algumas histórias desse lugar. Já
ouvi alguns relatos. Há alguns impublicáveis mesmo. A história das internações
no Brasil em si tem seu lado obscuro, triste... Acho que as mudanças que foram
feitas, muitas foram necessárias exatamente por conta dos métodos utilizados
nesses tratamentos, sempre questionados por causa das práticas desumanas e
agressivas utilizadas... Seria muito interessante se você conseguisse fazer
esta pesquisa e nos desse acesso para conhecer melhor a história dessa
instituição e para que a população possa conhecer um pouco mais dos aspectos
sombrios das internações como foram feitas”, motiva Lima.
Em
casos especiais como esses dos doentes mentais, é necessário preservar as
fontes envolvidas. “As fontes são extremamente importantes porque é através
delas que conseguimos construir uma narrativa que seja científica. Nomes são
resgatados em uma pesquisa histórica, mas não se pode perder de vista que cada
tempo tem seu contexto e sua singularidade. Assim, por exemplo, o eletrochoque
era uma prática legal, apesar de cruel. As fontes ajudam a entender o quadro de
uma forma mais ampla. Se souberem para onde foram os registros, certamente
conseguiremos avançar”, torce Muniz. O instrumento do eletrochoque serviu para
pressionar presos políticos, camponeses e indigentes urbanos contrários à
Ditadura Civil-Militar Brasileira de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985.
O
ministro da Fazenda e jurista Rui Barbosa, governo de Deodoro da Fonseca, queimou os arquivos da escravidão em 1890 para evitar uma
chuva de processos indenizatórios dos latifundiários donos de escravos negros
contra o recém-criado Estado Republicano. Os arquivos da Ditadura foram
incinerados, juntamente com os cadáveres de suas vítimas. Provavelmente, os
arquivos do Prontomente e de outros manicômios foram queimados ou estão em mãos
de particulares. O Estado Burguês não se interessa em preservar a memória pública
histórica.
No
livro “Lima Barreto: Triste Visionário”, de Lilia Moritz Schwarcz, Companhia
das Letras, 2017, é narrado que o Hospício de Pedro II data de 1841. Dez anos
antes acontecia a abolição do tráfico negreiro pela Inglaterra entre o Brasil e
a África. A lei Eusébio de Queiroz viria apenas em 1850. Desde 1810 que Londres
pressionava dom João VI para por fim ao comércio de escravizados, dois anos
depois da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e da Abertura dos Portos do país
para favorecer os ingleses. Lilia Moritz Schwarcz usou as iniciais dos nomes
dos pacientes dos hospícios para contar a história de cada personagem e manter
o anonimato de cada um. A maioria dos internos era negro. Os hospícios se
denominavam Colônias de Alienados. Ficavam na Ilha do Governador, Baía de
Guanabara, Rio de Janeiro. Serviram para abrigar os “loucos” brasileiros da
Monarquia e da República capitalistas, após o longo processo nacional para a
abolição da escravatura negra em 13 de maio de 1888.
J.
F., 18 anos, solteiro e brasileiro, negro, debilidade mental e alcoolismo. M.
D., 22 anos, alcoolismo, parda, mas era negra. I. J., 54 anos, ferreiro, de
origem italiana, alcoolismo. A. A. C., de 34 anos, branca, todavia, negra. “No
ambiente psiquiatra brasileiro, a associação entre sexualidade e doença mental
era ainda muito comum”, afirma, à página 286, a historiadora e antropóloga, Lilia
Moritz Schwarcz, que durante 10 anos fez pesquisas para resultar no livro “Lima
Barreto: Triste Visionário”. Triste significa teimoso. E. C., branca, 48 anos,
casada, portuguesa. Em 30 de agosto de 1902, ela foi molestada sexualmente pelo
cunhado quando tinha 14 anos. “O negro é a cor mais cortante, mais
impressionante”, declara o biografado Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922).
As fotografias dos internos se caracterizam como registro policial, que retrata
doentes e criminosos em más condições de saúde. Essa também foi a praxe da
Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985).
Diretor
do Museu Nacional, João Batista Lacerda (1846-1915) favoreceu o branqueamento
brasileiro. O psiquiatra baiano e negro Juliano Moreira dirigiu as Colônias de
Alienados de 1903 a 1930. Produziu esquema de cruzamento de raças no Brasil.
Conforme sua visão, branco com caboclo dá mameluco. Do branco com o negro nasce
o mulato. É interessante salientar o significado preconceituoso da palavra “mulato”,
que é o cruzamento do mulo, que é estéril, com a égua. Caboclo com negro gera o
cafuso. Do branco com mameluco origina o pardo. O branco com mulato procria também
o pardo. Branco com cafuso dá luz a mais um pardo. Mameluco com caboclo
supostamente daria pardo. Mameluco com mulato descende outro pardo. O mulato
com cafuso poderia originar outro “c”. Caboclo com cafuso se forma caibra.
Mameluco com negro se manifesta caibra. Mulato com negro provém caibra. Negro
com cafuso aparece mais um caibra.
O
pai de Afonso Henriques de Lima Barreto, João Henriques de Lima Barreto foi
almoxarife, administrador e interno das Colônias de Alienados depois de ser um
dos primeiros desempregados da República, golpe militar maçônico sobre os
monarquistas. João Henriques trabalhou com afinco como tipógrafo da Imprensa
Nacional graças ao Visconde de Ouro Preto, Afonso Celso de Assis Figueiredo,
que batizaria o primeiro filho do casal João Henriques e da professora primária
Amália Augusta: o conhecido escritor maldito, realista e pré-modernista, Lima
Barreto, nascido nas Laranjeiras/RJ, Dia de Nossa Senhora dos Mártires, em 13
de maio de 1881, sete anos antes do fim da escravidão negra. Morreu e foi
enterrado em Botafogo/RJ, Dia de Todos Os Santos, 1º de novembro de 1922. Vinte
quatros horas mais tarde, faleceria seu pai, Dia de Finados. Ambos sofriam de
neurastenia e ficaram internados nas Colônias de Alienados.
O
motivo da internação do pai foi a loucura que o abateu após descobrir que as
contas financeiras da instituição não fechavam. Nunca descobriu que estava
sendo roubado por um colega de trabalho. Já o filho virou alcoólatra. O casal
Lima Barreto teve cinco filhos. O primeiro foi abortado espontaneamente. Amália
Augusta sofria de tuberculose. O casal teve ainda mais quatro filhos: Afonso
Henriques de Lima Barreto e mais dois homens e uma mulher. A Marinha do Brasil
preserva a casa onde os Lima Barreto moraram até hoje na Ilha do Governador.
Chama-se Sítio do Sossego e foi palco da Revolta da Armada, rebeldia dos
marinheiros contra o governo do marechal Floriano Peixoto, segundo presidente
da República Velha (1889-1930). Lima Barreto passou a infância ali.
Publicado
em formato de folhetim em 1911 no Jornal do Commercio, “Triste Fim de Policarpo
Quaresma” rememora essa época. O livro viria a nascer quatro anos depois. Lima
Barreto o escreveu em cerca de três meses. Mistura a vida do pai, do filho e
dos familiares. O cineasta Paulo Thiago transformou o livro em filme em 1998.
Lima Barreto era devoto de Nossa Senhora da Glória. Foi o primeiro escritor a
retratar o subúrbio de uma forma realista e romântica. “Eu pesquiso processos
criminais envolvendo escravizados nos últimos anos anteriores à abolição”,
informa o enfermeiro Flávio Muniz. “A questão da internação psiquiátrica divide
muitas opiniões no meio da medicina. Diga-se o caso da cidade de Barbacena em
que algumas clínicas foram fechadas e outras ainda funcionam após se
comprometerem a dar um tratamento humanizado aos pacientes. Os protocolos
felizmente mudaram com a luta antimanicomial”, festeja Leonardo Silva. Os fatos
dos manicômios da cidade mineira de Barbacena são retratados no livro da
jornalista Daniela Arbex em seu livro “Holocausto Brasileiro: genocídio de 60
mil mortos no maior hospício do Brasil”, publicado em 06 de julho de 2013 pela
Geração Editorial.
O
livro “Primeiras Histórias”, de João Guimarães Rosa (1908-1967), trata do assunto
no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, transformado em filme por Pedro Bial. O
longa-metragem foi encenado em Montes Claros, Norte de Minas Gerais. O Cinema
Comentado Cine Clube já exibiu o filme na Sala Geraldo Freire, anexa à antiga
Câmara Municipal de MOC, na Avenida João Luiz de Almeida. A Estação Ferroviária
Central do Brasil (EFCB) servia de pano de fundo para a história real. Durante
módulo da primeira turma (2009-2012) da Escola de Formação em Fé e Política da
Arquidiocese de Montes Claros em 23 de julho de 2011, o secretário-executivo do
Conselho Municipal de Saúde (CMS), João Batista Alves, cobrou os tão sonhados
leitos substitutivos para o Prontomente, importantes para o Norte de Minas
Gerais, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Sul da Bahia. “Com R$ 1 milhão,
nós equipávamos todos os agentes de saúde” e até com aparelho de glicemia,
garantiu.
No
grupo do facebook “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Odete Martins apontou que
o Prontomente já funcionou em bairro de militares reformados e ex-ferroviários.
“Esta clínica funcionava antes (muito antes mesmo) no Bairro Santa Rita de
Cássia, próximo à igreja do mesmo nome. Eu era muito pequena, mas lembro que
falavam dela nesse bairro. Depois que mudaram para o Bairro Alto São João. O
motivo de seu fechamento, eu não sei”, admite. “Estive lá por 24 horas. Um
horror”, testemunha o músico Alik Popoff. “Sim. Lembro-me do Hospital Santa
Catarina, na Praça Santa Rita”, completa Noélia Silva.
Em
reportagem de nove minutos e três segundos, o MG InterTV 1ª Edição apresentado
por Maria Ribeiro em 09 de maio de 2013 traz através de Ana Carolina Ferreira
que famílias de pacientes enfrentam problemas com o fechamento do Prontomente.
No período, havia 12 leitos disponíveis para a área no Hospital Universitário
Clemente de Faria (HUCF), Avenida Cula Mangabeira, Bairro Cândida Câmara. Rapaz
de 24 anos com depressão tenta matar a mãe. Ele destrói a própria casa e
aparelhos domésticos da família. O jovem é filho da artesã Maria das Graças
Freitas, negra. Não existe mais lugar específico em MOC para tratamentos
psiquiátricos, denuncia Ana Carolina Ferreira. E a história se repete como em
uma novela da TV Globo, Record, SBT e Bandeirantes. No Bairro Village do Lago
II, pais dormem em casa de parentes para se refugiarem do filho com
esquizofrenia. Há agressões a vizinhos. A dona-de-casa Rosimeire Ferreira Alves
sofre com a situação. Mulher com síndrome do pânico procura o Prontomente para
solucionar o seu problema, mas o encontra de portas fechadas.
O
sucateamento do sistema público de saúde fica evidente pela disseminação
contagiosa de sucessivos governos liberais reformistas, tanto à direita, como à esquerda do
processo kafkaniano do Estado Democrático de Direito. A defasagem de preços da
tabela do SUS em relação ao setor privado provoca ira da população que migra
para planos particulares de saúde. Estes, superlotados, não suportam a demanda
dos mais de 200 milhões de brasileiros.
Coordenador
da Saúde Mental em MOC de 2013 a 2016, Leonardo Félix diz que falta articulação
entre os três níveis da saúde pública. A quantidade de leitos é insuficiente.
Já foram solicitados mais de 30 leitos para os hospitais, argumenta. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta cinco leitos para cada 10 mil
habitantes. Em Montes Claros, seriam necessários 200 espaços para o setor
mental. É o que sublinha o psiquiatra Wender Fernandes. Secretário municipal de
Saúde na época, o médico e professor da Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), Geraldo Édson Guerra, e o vereador Fernando Andrade, ligado à
organização não-governamental “Anjos do Futuro”, que cuida de pacientes com
câncer, apontam para a urgência da criação de mais Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) e que funcionem 24 horas, além da existência de oficinas
terapêuticas. Geraldo Édson Guerra ainda dispara: a dívida do Prontomente é
deles. Eles criaram dentro do hospital.
Em
novembro de 2012, com dívidas acumuladas de mais de R$ 1 milhão, as atividades
do Prontomente se encerraram. A cidade vivia o governo municipal de Ruy Adriano
Borges Muniz, sucessor de Luiz Tadeu Leite. De 2009 a 2016, Montes Claros
atrasaria sua vida municipal. A crise começou no governo municipal de Athos
Avelino Pereira de 2005 a 2008 com a saída do secretário de Saúde, João Batista
Silvério. Os Centros de Atenção Psicossocial estavam ativos. Os Programas da
Saúde da Família (PSF) também. Ruy Muniz sucatearia ainda o Centro Cultural
Hermes de Paula e daria fim ao Restaurante Popular em novembro de 2016. O
político e empresário da educação foi preso pela Polícia Federal em 18 de abril
de 2016, um dia após a sua esposa oficial, a deputada federal Raquel Muniz,
confirmar o impeachment da presidente Dilma Vana Rousseff. Perderia as eleições
municipais para Humberto Guimarães Souto. Concorreu democraticamente e
diretamente da prisão. O Prontomente tinha capacidade para 80 leitos. Trinta
por cento dos quadros dos hospitais devem ser destinados para pacientes com
problemas psiquiátricos, prevê a legislação nacional.
Em
31 de agosto de 2012, em matéria de cinco minutos e 38 segundos da TV Canal 20,
Jornal 20, hoje VinTV, de propriedade do magistrado aposentado, empresário da
comunicação e roqueiro nas horas vagas, Danilo Campos, o foco abre para novos
ares de reflexão. A produção da reportagem foi de Amanda Rocha. Sem recursos
materiais, os familiares de pobres pacientes com doentes mentais são obrigados
a os amarrarem na própria cama para evitar que quebrem toda a casa. As imagens
da matéria são do cinegrafista Vinícius Matos.
“Joga pedra na
Geni”, Chico Buarque
Casado
com Geni há 25 anos, o serviços gerais Francisco Dalvo Athayde, de 64 anos de
idade, revela que viveu feliz com a esposa nos dois primeiros anos de
matrimônio. No terceiro ano, desandou a saúde mental da cônjuge e as
internações se tornaram frequentes e hereditárias. Critica o Prontomente. “São
45 dias de tratamento: se eu melhorar, eu saio. Seu eu não melhorar, eu saio do
mesmo jeito”, denuncia o serviços gerais. O Prontomente é o único hospital do
Norte de Minas e Sul da Bahia que atende paciente nesse estado e fechou as
portas. As imagens da matéria da VinTV são ainda do cinegrafista Thales
Fernando. “Foi ruim demais pruns 50 pais de família aqui”, constata Francisco
Athayde.
Nos
corredores vazios do Prontomente apenas um gato frequenta o local. Na ala
masculina, situação deplorável do sucateamento hospitalar. Na ala feminina,
mesma realidade. A reportagem é do jornalista Carlos Alberto Júnior. Paciente
negra recebeu alta, mas sempre volta para tentar ser internada novamente e tem
seu pedido negado. O nome na fachada do prédio da Vila Regina “Prontomente
Clínica Psiquiátrica e de Repouso” mostra o descaso do Estado Burguês com a
situação. O diretor administrativo é o desanimado Eduardo Narciso. “O hospital
acumulou dívidas nos últimos dois, três anos e esse nível de endividamento
chegou a uma situação preocupante onde nós não podemos continuar a tocar as
nossas obrigações porque sob o risco de aumentar esse endividamento. E eu
acredito que a saúde financeira de todos os hospitais esteja também muito ruim
pelo fato do subfinanciamento da saúde pelo SUS”, ressalta.
“Nós
temos hoje um valor muito aquém do que precisaríamos para manter o hospital e
esse valor não conseguiu fazer frente às nossas despesas. Eu, como
diretor-administrativo, não posso manter uma situação que gere prejuízo para os
meus sócios. Já temos uma dívida hoje e não podemos deixar que ela aumente”,
pondera. “Eu não vejo outra alternativa. Nós temos, como eu falei, um nível de
endividamento muito grande. Temos compromissos a honrar. Quais compromissos são
esses? Temos compromissos com os nossos funcionários, temos compromissos
fiscais com o governo, temos compromissos bancários e temos compromissos com os
nossos fornecedores. Se nós deixarmos essa dívida num crescente, vamos chegar a
um tempo em que não teremos como honrar isso”, teme.
O
Prontomente existiu por 38 anos. Abriu as portas em 1974, ano em que o cearense
dominicano, frei Tito de Alencar Lima, foi suicidado pelos fantasmas do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo/SP, cujo delegado
era o dependente químico por cocaína Sérgio Fernando Paranhos Fleury (1933-1979),
chamado de “o papa” pelos colegas, e cujo comando vinha do coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra (1932-2015). Frei Tito foi exilado em Paris, França,
porém nunca perdeu os medos torturadores da Ditadura Civil-Militar Brasileira.
Preferiu se enforcar com uma corda através do tronco de uma árvore, perto do
lixo, em um parque parisiense. O Prontomente de MOC atendia precariamente e com
métodos ditatoriais casos como esse: pacientes psiquiátricos a usuários de
álcool e drogas. Mesmo assim, com a luta antimanicomial, várias pessoas
enfatizam que o fechamento do hospital foi um enorme prejuízo. Era o período
assassino das administrações de Luiz Tadeu Leite e Ruy Muniz (2009 a 2016).
Santa Casa, Hospital Aroldo Tourinho, Fundação Dílson Godinho de Quadros (antigo
Hospital São Lucas), Pronto Atendimento Alfeu Gonçalves de Quadros, Prontocor,
postos de saúde e clínicas particulares se digladiavam com Ruy Muniz por verbas
do mesmo SUS que criticam. O prefeito de 2013 a 2016 construía, surrupiando
verbas públicas, o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro da Silveira, no Bairro
Amazonas, sempre anonimamente.
O
diretor-administrativo do Prontomente repete que a dívida da clínica ultrapassa
os R$ 1 milhão. “A receita do Prontomente, nós trabalhamos com um valor de
produção nossa que é chamada um agá mais uma complementação de R$ 22 mil do
tesouro municipal. O que acontece é o seguinte: isso aí gera mais ou menos um
faturamento de 120 poucos mil reais mês e isso é insuficiente para fazer frente
às nossas despesas, sem contar que isso aí tá incluído honorário médico. Não é
só a questão do hospital. Acontece que, em 2011, o valor da Prefeitura deixou
de ser repassado ao hospital Prontomente e nós acumulamos aí um déficit de
quase R$ 300 mil. Para uma instituição que tem um faturamento de 100 e poucos
mil é muito dinheiro. E o que acontece é o seguinte: nós tivemos que fazer
algumas paradas de internação, alguns movimentos paredistas, em 2012, pra
receber esse valor que nos era devido pela Prefeitura. E ao fazermos esse
movimento paredista, a coisa entra num círculo vicioso porque você deixa de
internar, e em deixando de internar, você deixa de faturar. Então, obviamente,
você começa a faturar menos e aí a dívida só vai num crescente. Então chegou a
um ponto que inviabilizou o funcionamento do hospital”, lamenta.
No
grupo do facebook “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Fátima Claret Andrade
pergunta se “por favor, essa clínica era dirigida pelo dr. Aflio Mendes de Aguiar?
Tenho quase certeza que é ela. Eu era criança e a primeira vez que ouvi falar
nela foi quando meu cunhado ficou internado lá. Eu a conhecia como a clínica do
dr. Aflio”, recorda ao se referir à Casa de Saúde Santa Catarina Aflio Mendes
Aguiar que funcionou sob o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) de
número 22.660.781/0001-83,
razão social denominada Aflio Mendes Aguiar e nome fantasia descrita como Casa
de Saúde Santa Catarina, inaugurada em 26 de agosto de 1966, tipo matriz,
situação baixada, natureza jurídica como empresário (individual), com localização à Rua Santa Catarina, 42, Bairro Santa Rita, CEP 39.400-395.
Fernando
Sancho ainda complementa no grupo “Tripulantes da Máquina do Tempo”. “Sou
mestre de obras. Nos anos de 1970 a 1980, fizemos uma puxada para ampliação do
mesmo. Como disse o amigo, muitas coisas impublicáveis e tristes”,
concorda. “Tive um parente que foi internado lá e, umas quatro horas depois, já
tinha fugido e escondeu-se em outra cidade”, menciona Sales Neves Rosa.
Em um dos textos do livro “Rua de Baixo: o passado reencontrado”,
de Fabiano Lopes de Paula, Adriana Lopes de Paula Andrade, Bernadete Versiani
Santos e Virgínia Abreu de Paula, narra-se que o prefeito de Montes Claros,
Antônio Teixeira de Carvalho (Dr. Santos) mandou mudar o nome do filho só
porque se assemelhava a um nome de um negro. Foi Antônio Teixeira de Carvalho
que inaugurou em 05 de julho de 1932, dia de seu aniversário, o Sanatório Santa
Terezinha, mais tarde convertido em hospital. Inicialmente projetado para
cuidar de pacientes tuberculosos, a casa rosada do Sanatório Santa Terezinha
funcionou na esquina das ruas Dr. Veloso com Dom João Pimenta, centro de MOC-MG,
até a década de 1990. “A pobreza não humilha ninguém; fortalece e exalta.
Anatole France sempre agradeceu ao destino que o fez nascer pobre. A pobreza,
diz o Mestre, é o anjo de Jacob: obriga aqueles que ele ama a lutar na sombra
consigo e eles saem da luta com o sangue mais vivo, com o dorso mais ágil, com
os braços mais fortes”, discursa Dr. Santos na cerimônia de posse da
inauguração. Está registrado no livro “Montes Claros: sua história, sua gente,
seus costumes”, organizado e escrito pelo médico, historiador e folclorista
Hermes Augusto de Paula, segunda edição em três volumes, 1979, páginas 253 a 258.
Participante do grupo fundador da Renovação Carismática Católica
(RCC) na Arquidiocese de Montes Claros, Margarida Maria Quintino de Quadros (1934-2007)
estudou no Rio de Janeiro e Juiz de Fora, e formou-se em Farmácia em dezembro
de 1964. Foi presa pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 09 de
abril de 1965. Ainda ajudaria a fundar em 1987 o Conselho Diocesano de Leigos (Codile),
hoje Conselho Arquidiocesano de Leigos (Coarle), que teve como participantes Celeida
Bernardes de Oliveira Abreu (de MOC-MG) e José Luiz Nunes (de Janaúba-MG) no 1º
Encontro Nacional de Leigos e Leigas em Mariápolis, São Paulo, a partir de 07
de agosto de 1987. Foram e são ativas no Coarle Sônia Gomes de Oliveira, Flávia
Araújo de Almeida, Minercina Cardoso da Silva, Celecina Rodrigues Madureira,
Maria Claret Martins, Marcos André Ferreira de Oliveira, dentre outros.
Margarida Maria Quintino de Quadros, Margot, dava
graças a Deus pela demolição do Sanatório Santa Terezinha. Para ela, aquilo ali
era um hospital de loucos. Nascida no povoado Atoleiro, em Rio Pardo de Minas,
no dia 24 de março de 1950, do casal Paulo Alves de Araújo e Maria de Jesus, a
negra Laurita Alves de Araújo trabalhou 27 anos na Arquidiocese
de Montes Claros, no Seminário Maior Imaculado Coração de Maria, no Hospital
Santa Terezinha, na Fundação Dílson Godinho de Quadros e na Santa Casa de MOC. “Passava roupa no São Lucas com o ferro
elétrico. No Hospital Santa Terezinha, pra gente descer as escadas com os
pacientes para a parte de baixo, a gente descia com os pacientes na maca, na mão.
Não tinha recursos”, faz memória.
"Das cidades que temos para as cidades que queremos". Esse foi o tema das Assembleias Populares (APs) na primeira década do século XXI. Procuramos, desde 03 de abril de 2008, blogar com os internautas. Valorizando o diálogo ecumênico, interreligioso e intercultural, o objetivo deste espaço virtual é incentivar as pessoas a sugerir modestas propostas sociais para evitar o fim da História.
terça-feira, 9 de junho de 2020
34º Psiu Poético exalta dança e palavra
O Grupo de Literatura e Teatro Transa Poética, em parceria com a Prefeitura de Montes Claros, abriu inscrições, de 09 de junho a 31 de julho de 2020, para o 34º Festival de Arte Contemporânea Psiu Poético. Interessados devem enviar seus textos poéticos para os e-mails psiupoetico@gmail.com e psiupoetico.cinema@gmail.com. Este ano serão aceitos de um a três poemas. Os textos devem ser enviados em PDF, DOCx ou DOC. É obrigatória a identificação do autor no poema.
O artista interessado em inscrever um trabalho em vídeo deverá enviar o mesmo para psiupoetico.cinema@gmail.com com permissão de acesso. Os trabalhos audiovisuais devem ter duração de um a 10 minutos. Se o material exceder 25 megabytes, é necessário o compartilhamento do mesmo através de plataformas não-pagas, tais como iTransfer, WeTransfer e Send-file. Poderão participar poetas e artistas de qualquer parte do país.
Neste ano, por causa da pandemia do Sars-Cov-2 desde dezembro de 2019, o 34º Festival de Arte Contemporânea Psiu Poético, que terá como tema “DançaPalavra”, acontecerá de maneira virtual, através das plataformas digitais, redes sociais do Psiu Poético e YouTube. O evento está agendado para acontecer de 04 a 12 de outubro, como acontece desde 1987, e seu propósito é celebrar a poesia e promover o encontro, desta vez, virtual, de poetas, dançarinos, escritores e artistas de todos os lugares do mundo no mais longo Salão Nacional de Poesia que se tem notícia internacionalmente.
Texto: Hélder Maurício
O artista interessado em inscrever um trabalho em vídeo deverá enviar o mesmo para psiupoetico.cinema@gmail.com com permissão de acesso. Os trabalhos audiovisuais devem ter duração de um a 10 minutos. Se o material exceder 25 megabytes, é necessário o compartilhamento do mesmo através de plataformas não-pagas, tais como iTransfer, WeTransfer e Send-file. Poderão participar poetas e artistas de qualquer parte do país.
Neste ano, por causa da pandemia do Sars-Cov-2 desde dezembro de 2019, o 34º Festival de Arte Contemporânea Psiu Poético, que terá como tema “DançaPalavra”, acontecerá de maneira virtual, através das plataformas digitais, redes sociais do Psiu Poético e YouTube. O evento está agendado para acontecer de 04 a 12 de outubro, como acontece desde 1987, e seu propósito é celebrar a poesia e promover o encontro, desta vez, virtual, de poetas, dançarinos, escritores e artistas de todos os lugares do mundo no mais longo Salão Nacional de Poesia que se tem notícia internacionalmente.
Texto: Hélder Maurício
"Das cidades que temos para as cidades que queremos". Esse foi o tema das Assembleias Populares (APs) na primeira década do século XXI. Procuramos, desde 03 de abril de 2008, blogar com os internautas. Valorizando o diálogo ecumênico, interreligioso e intercultural, o objetivo deste espaço virtual é incentivar as pessoas a sugerir modestas propostas sociais para evitar o fim da História.
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