Frase

"(...) Quem vai no chão de fábrica compreende melhor o que está acontecendo. Nada melhor do que conversar, escutar e olhar nos olhos de quem foi diretamente afetado (...)" Romeu Zema Neto, governador do Estado de Minas Gerais, durante o lançamento da Campanha S.O.S. Chuva 2023-2024, a respeito dos atingidos por tragédias consideradas naturais na sociedade capitalista, como chuvas em áreas urbanizadas, rompimentos de barragens de rejeitos minerários e coronavírus

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Encantamento

Sinto perto de ti tantos encantamentos
Longe de ti sinto saudade imensa
Porque me encantas e ao mesmo tempo foges de mim
São coisas sem explicações
Amamos e nos queremos muito
Mas não conseguimos nos encontrar
Vamos para sempre juntos
Não podemos viver sozinhos
Porque são tantos sofrimentos
Eu sofro
E tu sofres
Vamos viver juntos
Vamos ser felizes


Gilmar Gusmão

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Prontomente: uma história, várias vidas

“Meu senhor, eu, entra ano,
Sai ano, trabalho nisto;
Há muito senhor humano,
Mas o meu é nunca visto.
Pancada, quando não vendo,
Pancada, quando dói, que arde;
Se vendo o que ando vendendo,
Pancada por chegar tarde.”

Manuel Cabinda, amigo de Lima Barreto

“Se eu pudesse [...] se me fosse dado ter o dom completo de escritor, eu havia de ser assim um Rousseau ao meu jeito, pregando à massa um ideal de vigor, de violência, de força, de coragem calculada, que lhe corrigisse a bondade e a doçura deprimente”

Lima Barreto em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá

“O álcool me provocava alucinações, eu incomodava os outros, metia-me em casas de saúde ou no hospício, eu renascia, voltava, e assim levava uma vida insegura, desgostosa e desgostando os outros”

Lima Barreto em O Cemitério dos Vivos

Na manhã de segunda-feira, 08 de junho de 2020, o Brasil amanheceu com mais de 37 mil mortes por Sars-Cov-2. No grupo da rede social virtual do facebook denominado “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Leonardo Silva postou duas imagens e convidou a todos a refletirem sobre elas. Era por volta de nove horas e 30 minutos da manhã. “Bom Dia, Tripulantes! Este local fechado com tapumes é a frente da antiga e atualmente fechada Clínica Psiquiátrica e de Repouso, localizada na Rua dom Aristides de Araújo Pôrto [segundo bispo diocesano de MOC], Bairro Alto São João, região do Parque de Exposições. Referência durante anos no tratamento de internações psiquiátricas, ouvi dizer que seu fechamento se deu, em parte, devido à pressão de movimentos antimanicomiais. Alguém se lembra desse local e pode compartilhar conosco alguma história?”, propõe Silva.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial é resgatado no dia 18 de maio, mesma data da celebração contra o abuso e a exploração sexual infanto-juvenil. A data se refere à atuação do médico italiano Franco Basaglia na década de 1960 em Gorizia e Trieste, Itália, contra os serviços psiquiátricos vigentes e à favor de uma reforma no setor. Remete também ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental ocorrido em 1987, em Bauru, interior do Estado de São Paulo, que congregou 350 operários. Nesse mesmo ano, surgiria o Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, realizado anualmente em MOC sempre de 04 a 12 de outubro. A Reforma Sanitária Brasileira resultaria na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988.

De 20 de dezembro de 1978 a 1984, depois de desavenças no trabalho com um colega, na antiga Biobrás, hoje Novo Nordisk, o bioquímico, vegano aos 25 anos e poeta naturalista, Antônio Gilmar Maia Gusmão foi internado na instituição, onde sofreu as maiores atrocidades que o deixaram com problemas na fala e no pensamento. Flávio Muniz escreveu na sua primeira mensagem sobre o assunto. “Hoje sou professor. Mas sou técnico em Enfermagem e trabalhei no Prontomente em 1995 e 1996. Sobre histórias, tenho muitas, algumas impublicáveis. Foi o meu primeiro emprego na Enfermagem. Gostaria muito de ter acesso aos registros para desenvolver uma pesquisa histórica sobre este lugar”, expõe.

“Bacana!”, exalta Leonardo Silva. “Cada coisa tem seu contexto. Não sei porque fechou, mas a luta antimanicomial foi um avanço contra os tratamentos desumanos que havia na Psiquiatria. Se você soubesse as práticas que eram consideradas ‘normais’, jamais deixaria alguém que ama ser internado. Acredito que houve avanços. Vários hospitais psiquiátricos se tornariam Hospital Dia ou Caps [Centros de Atenção Psicossocial]. Internação psiquiátrica tem aspectos positivos, mas muitos e muitos aspectos negativos”, considera o enfermeiro. “Acredito ter sido uma grande perda para a Psiquiatria o seu fechamento, pois era uma referência”, lamenta Silva. “Obrigado pelas informações, meu amigo”, agradece. Joaninha Lima entra na discussão. “Verdade! Também conheço algumas histórias desse lugar. Já ouvi alguns relatos. Há alguns impublicáveis mesmo. A história das internações no Brasil em si tem seu lado obscuro, triste... Acho que as mudanças que foram feitas, muitas foram necessárias exatamente por conta dos métodos utilizados nesses tratamentos, sempre questionados por causa das práticas desumanas e agressivas utilizadas... Seria muito interessante se você conseguisse fazer esta pesquisa e nos desse acesso para conhecer melhor a história dessa instituição e para que a população possa conhecer um pouco mais dos aspectos sombrios das internações como foram feitas”, motiva Lima.

Em casos especiais como esses dos doentes mentais, é necessário preservar as fontes envolvidas. “As fontes são extremamente importantes porque é através delas que conseguimos construir uma narrativa que seja científica. Nomes são resgatados em uma pesquisa histórica, mas não se pode perder de vista que cada tempo tem seu contexto e sua singularidade. Assim, por exemplo, o eletrochoque era uma prática legal, apesar de cruel. As fontes ajudam a entender o quadro de uma forma mais ampla. Se souberem para onde foram os registros, certamente conseguiremos avançar”, torce Muniz. O instrumento do eletrochoque serviu para pressionar presos políticos, camponeses e indigentes urbanos contrários à Ditadura Civil-Militar Brasileira de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985.

O ministro da Fazenda e jurista Rui Barbosa, governo de Deodoro da Fonseca, queimou os arquivos da escravidão em 1890 para evitar uma chuva de processos indenizatórios dos latifundiários donos de escravos negros contra o recém-criado Estado Republicano. Os arquivos da Ditadura foram incinerados, juntamente com os cadáveres de suas vítimas. Provavelmente, os arquivos do Prontomente e de outros manicômios foram queimados ou estão em mãos de particulares. O Estado Burguês não se interessa em preservar a memória pública histórica.

No livro “Lima Barreto: Triste Visionário”, de Lilia Moritz Schwarcz, Companhia das Letras, 2017, é narrado que o Hospício de Pedro II data de 1841. Dez anos antes acontecia a abolição do tráfico negreiro pela Inglaterra entre o Brasil e a África. A lei Eusébio de Queiroz viria apenas em 1850. Desde 1810 que Londres pressionava dom João VI para por fim ao comércio de escravizados, dois anos depois da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e da Abertura dos Portos do país para favorecer os ingleses. Lilia Moritz Schwarcz usou as iniciais dos nomes dos pacientes dos hospícios para contar a história de cada personagem e manter o anonimato de cada um. A maioria dos internos era negro. Os hospícios se denominavam Colônias de Alienados. Ficavam na Ilha do Governador, Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Serviram para abrigar os “loucos” brasileiros da Monarquia e da República capitalistas, após o longo processo nacional para a abolição da escravatura negra em 13 de maio de 1888.

J. F., 18 anos, solteiro e brasileiro, negro, debilidade mental e alcoolismo. M. D., 22 anos, alcoolismo, parda, mas era negra. I. J., 54 anos, ferreiro, de origem italiana, alcoolismo. A. A. C., de 34 anos, branca, todavia, negra. “No ambiente psiquiatra brasileiro, a associação entre sexualidade e doença mental era ainda muito comum”, afirma, à página 286, a historiadora e antropóloga, Lilia Moritz Schwarcz, que durante 10 anos fez pesquisas para resultar no livro “Lima Barreto: Triste Visionário”. Triste significa teimoso. E. C., branca, 48 anos, casada, portuguesa. Em 30 de agosto de 1902, ela foi molestada sexualmente pelo cunhado quando tinha 14 anos. “O negro é a cor mais cortante, mais impressionante”, declara o biografado Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922). As fotografias dos internos se caracterizam como registro policial, que retrata doentes e criminosos em más condições de saúde. Essa também foi a praxe da Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985).

Diretor do Museu Nacional, João Batista Lacerda (1846-1915) favoreceu o branqueamento brasileiro. O psiquiatra baiano e negro Juliano Moreira dirigiu as Colônias de Alienados de 1903 a 1930. Produziu esquema de cruzamento de raças no Brasil. Conforme sua visão, branco com caboclo dá mameluco. Do branco com o negro nasce o mulato. É interessante salientar o significado preconceituoso da palavra “mulato”, que é o cruzamento do mulo, que é estéril, com a égua. Caboclo com negro gera o cafuso. Do branco com mameluco origina o pardo. O branco com mulato procria também o pardo. Branco com cafuso dá luz a mais um pardo. Mameluco com caboclo supostamente daria pardo. Mameluco com mulato descende outro pardo. O mulato com cafuso poderia originar outro “c”. Caboclo com cafuso se forma caibra. Mameluco com negro se manifesta caibra. Mulato com negro provém caibra. Negro com cafuso aparece mais um caibra.

O pai de Afonso Henriques de Lima Barreto, João Henriques de Lima Barreto foi almoxarife, administrador e interno das Colônias de Alienados depois de ser um dos primeiros desempregados da República, golpe militar maçônico sobre os monarquistas. João Henriques trabalhou com afinco como tipógrafo da Imprensa Nacional graças ao Visconde de Ouro Preto, Afonso Celso de Assis Figueiredo, que batizaria o primeiro filho do casal João Henriques e da professora primária Amália Augusta: o conhecido escritor maldito, realista e pré-modernista, Lima Barreto, nascido nas Laranjeiras/RJ, Dia de Nossa Senhora dos Mártires, em 13 de maio de 1881, sete anos antes do fim da escravidão negra. Morreu e foi enterrado em Botafogo/RJ, Dia de Todos Os Santos, 1º de novembro de 1922. Vinte quatros horas mais tarde, faleceria seu pai, Dia de Finados. Ambos sofriam de neurastenia e ficaram internados nas Colônias de Alienados.

O motivo da internação do pai foi a loucura que o abateu após descobrir que as contas financeiras da instituição não fechavam. Nunca descobriu que estava sendo roubado por um colega de trabalho. Já o filho virou alcoólatra. O casal Lima Barreto teve cinco filhos. O primeiro foi abortado espontaneamente. Amália Augusta sofria de tuberculose. O casal teve ainda mais quatro filhos: Afonso Henriques de Lima Barreto e mais dois homens e uma mulher. A Marinha do Brasil preserva a casa onde os Lima Barreto moraram até hoje na Ilha do Governador. Chama-se Sítio do Sossego e foi palco da Revolta da Armada, rebeldia dos marinheiros contra o governo do marechal Floriano Peixoto, segundo presidente da República Velha (1889-1930). Lima Barreto passou a infância ali.

Publicado em formato de folhetim em 1911 no Jornal do Commercio, “Triste Fim de Policarpo Quaresma” rememora essa época. O livro viria a nascer quatro anos depois. Lima Barreto o escreveu em cerca de três meses. Mistura a vida do pai, do filho e dos familiares. O cineasta Paulo Thiago transformou o livro em filme em 1998. Lima Barreto era devoto de Nossa Senhora da Glória. Foi o primeiro escritor a retratar o subúrbio de uma forma realista e romântica. “Eu pesquiso processos criminais envolvendo escravizados nos últimos anos anteriores à abolição”, informa o enfermeiro Flávio Muniz. “A questão da internação psiquiátrica divide muitas opiniões no meio da medicina. Diga-se o caso da cidade de Barbacena em que algumas clínicas foram fechadas e outras ainda funcionam após se comprometerem a dar um tratamento humanizado aos pacientes. Os protocolos felizmente mudaram com a luta antimanicomial”, festeja Leonardo Silva. Os fatos dos manicômios da cidade mineira de Barbacena são retratados no livro da jornalista Daniela Arbex em seu livro “Holocausto Brasileiro: genocídio de 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, publicado em 06 de julho de 2013 pela Geração Editorial.

O livro “Primeiras Histórias”, de João Guimarães Rosa (1908-1967), trata do assunto no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, transformado em filme por Pedro Bial. O longa-metragem foi encenado em Montes Claros, Norte de Minas Gerais. O Cinema Comentado Cine Clube já exibiu o filme na Sala Geraldo Freire, anexa à antiga Câmara Municipal de MOC, na Avenida João Luiz de Almeida. A Estação Ferroviária Central do Brasil (EFCB) servia de pano de fundo para a história real. Durante módulo da primeira turma (2009-2012) da Escola de Formação em Fé e Política da Arquidiocese de Montes Claros em 23 de julho de 2011, o secretário-executivo do Conselho Municipal de Saúde (CMS), João Batista Alves, cobrou os tão sonhados leitos substitutivos para o Prontomente, importantes para o Norte de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Sul da Bahia. “Com R$ 1 milhão, nós equipávamos todos os agentes de saúde” e até com aparelho de glicemia, garantiu.

No grupo do facebook “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Odete Martins apontou que o Prontomente já funcionou em bairro de militares reformados e ex-ferroviários. “Esta clínica funcionava antes (muito antes mesmo) no Bairro Santa Rita de Cássia, próximo à igreja do mesmo nome. Eu era muito pequena, mas lembro que falavam dela nesse bairro. Depois que mudaram para o Bairro Alto São João. O motivo de seu fechamento, eu não sei”, admite. “Estive lá por 24 horas. Um horror”, testemunha o músico Alik Popoff. “Sim. Lembro-me do Hospital Santa Catarina, na Praça Santa Rita”, completa Noélia Silva.

Em reportagem de nove minutos e três segundos, o MG InterTV 1ª Edição apresentado por Maria Ribeiro em 09 de maio de 2013 traz através de Ana Carolina Ferreira que famílias de pacientes enfrentam problemas com o fechamento do Prontomente. No período, havia 12 leitos disponíveis para a área no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), Avenida Cula Mangabeira, Bairro Cândida Câmara. Rapaz de 24 anos com depressão tenta matar a mãe. Ele destrói a própria casa e aparelhos domésticos da família. O jovem é filho da artesã Maria das Graças Freitas, negra. Não existe mais lugar específico em MOC para tratamentos psiquiátricos, denuncia Ana Carolina Ferreira. E a história se repete como em uma novela da TV Globo, Record, SBT e Bandeirantes. No Bairro Village do Lago II, pais dormem em casa de parentes para se refugiarem do filho com esquizofrenia. Há agressões a vizinhos. A dona-de-casa Rosimeire Ferreira Alves sofre com a situação. Mulher com síndrome do pânico procura o Prontomente para solucionar o seu problema, mas o encontra de portas fechadas.

O sucateamento do sistema público de saúde fica evidente pela disseminação contagiosa de sucessivos governos liberais reformistas, tanto à direita, como à esquerda do processo kafkaniano do Estado Democrático de Direito. A defasagem de preços da tabela do SUS em relação ao setor privado provoca ira da população que migra para planos particulares de saúde. Estes, superlotados, não suportam a demanda dos mais de 200 milhões de brasileiros. 

Coordenador da Saúde Mental em MOC de 2013 a 2016, Leonardo Félix diz que falta articulação entre os três níveis da saúde pública. A quantidade de leitos é insuficiente. Já foram solicitados mais de 30 leitos para os hospitais, argumenta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta cinco leitos para cada 10 mil habitantes. Em Montes Claros, seriam necessários 200 espaços para o setor mental. É o que sublinha o psiquiatra Wender Fernandes. Secretário municipal de Saúde na época, o médico e professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Geraldo Édson Guerra, e o vereador Fernando Andrade, ligado à organização não-governamental “Anjos do Futuro”, que cuida de pacientes com câncer, apontam para a urgência da criação de mais Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e que funcionem 24 horas, além da existência de oficinas terapêuticas. Geraldo Édson Guerra ainda dispara: a dívida do Prontomente é deles. Eles criaram dentro do hospital. 

Em novembro de 2012, com dívidas acumuladas de mais de R$ 1 milhão, as atividades do Prontomente se encerraram. A cidade vivia o governo municipal de Ruy Adriano Borges Muniz, sucessor de Luiz Tadeu Leite. De 2009 a 2016, Montes Claros atrasaria sua vida municipal. A crise começou no governo municipal de Athos Avelino Pereira de 2005 a 2008 com a saída do secretário de Saúde, João Batista Silvério. Os Centros de Atenção Psicossocial estavam ativos. Os Programas da Saúde da Família (PSF) também. Ruy Muniz sucatearia ainda o Centro Cultural Hermes de Paula e daria fim ao Restaurante Popular em novembro de 2016. O político e empresário da educação foi preso pela Polícia Federal em 18 de abril de 2016, um dia após a sua esposa oficial, a deputada federal Raquel Muniz, confirmar o impeachment da presidente Dilma Vana Rousseff. Perderia as eleições municipais para Humberto Guimarães Souto. Concorreu democraticamente e diretamente da prisão. O Prontomente tinha capacidade para 80 leitos. Trinta por cento dos quadros dos hospitais devem ser destinados para pacientes com problemas psiquiátricos, prevê a legislação nacional.

Em 31 de agosto de 2012, em matéria de cinco minutos e 38 segundos da TV Canal 20, Jornal 20, hoje VinTV, de propriedade do magistrado aposentado, empresário da comunicação e roqueiro nas horas vagas, Danilo Campos, o foco abre para novos ares de reflexão. A produção da reportagem foi de Amanda Rocha. Sem recursos materiais, os familiares de pobres pacientes com doentes mentais são obrigados a os amarrarem na própria cama para evitar que quebrem toda a casa. As imagens da matéria são do cinegrafista Vinícius Matos.

“Joga pedra na Geni”, Chico Buarque

Casado com Geni há 25 anos, o serviços gerais Francisco Dalvo Athayde, de 64 anos de idade, revela que viveu feliz com a esposa nos dois primeiros anos de matrimônio. No terceiro ano, desandou a saúde mental da cônjuge e as internações se tornaram frequentes e hereditárias. Critica o Prontomente. “São 45 dias de tratamento: se eu melhorar, eu saio. Seu eu não melhorar, eu saio do mesmo jeito”, denuncia o serviços gerais. O Prontomente é o único hospital do Norte de Minas e Sul da Bahia que atende paciente nesse estado e fechou as portas. As imagens da matéria da VinTV são ainda do cinegrafista Thales Fernando. “Foi ruim demais pruns 50 pais de família aqui”, constata Francisco Athayde.

Nos corredores vazios do Prontomente apenas um gato frequenta o local. Na ala masculina, situação deplorável do sucateamento hospitalar. Na ala feminina, mesma realidade. A reportagem é do jornalista Carlos Alberto Júnior. Paciente negra recebeu alta, mas sempre volta para tentar ser internada novamente e tem seu pedido negado. O nome na fachada do prédio da Vila Regina “Prontomente Clínica Psiquiátrica e de Repouso” mostra o descaso do Estado Burguês com a situação. O diretor administrativo é o desanimado Eduardo Narciso. “O hospital acumulou dívidas nos últimos dois, três anos e esse nível de endividamento chegou a uma situação preocupante onde nós não podemos continuar a tocar as nossas obrigações porque sob o risco de aumentar esse endividamento. E eu acredito que a saúde financeira de todos os hospitais esteja também muito ruim pelo fato do subfinanciamento da saúde pelo SUS”, ressalta.

“Nós temos hoje um valor muito aquém do que precisaríamos para manter o hospital e esse valor não conseguiu fazer frente às nossas despesas. Eu, como diretor-administrativo, não posso manter uma situação que gere prejuízo para os meus sócios. Já temos uma dívida hoje e não podemos deixar que ela aumente”, pondera. “Eu não vejo outra alternativa. Nós temos, como eu falei, um nível de endividamento muito grande. Temos compromissos a honrar. Quais compromissos são esses? Temos compromissos com os nossos funcionários, temos compromissos fiscais com o governo, temos compromissos bancários e temos compromissos com os nossos fornecedores. Se nós deixarmos essa dívida num crescente, vamos chegar a um tempo em que não teremos como honrar isso”, teme.

O Prontomente existiu por 38 anos. Abriu as portas em 1974, ano em que o cearense dominicano, frei Tito de Alencar Lima, foi suicidado pelos fantasmas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo/SP, cujo delegado era o dependente químico por cocaína Sérgio Fernando Paranhos Fleury (1933-1979), chamado de “o papa” pelos colegas, e cujo comando vinha do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015). Frei Tito foi exilado em Paris, França, porém nunca perdeu os medos torturadores da Ditadura Civil-Militar Brasileira. Preferiu se enforcar com uma corda através do tronco de uma árvore, perto do lixo, em um parque parisiense. O Prontomente de MOC atendia precariamente e com métodos ditatoriais casos como esse: pacientes psiquiátricos a usuários de álcool e drogas. Mesmo assim, com a luta antimanicomial, várias pessoas enfatizam que o fechamento do hospital foi um enorme prejuízo. Era o período assassino das administrações de Luiz Tadeu Leite e Ruy Muniz (2009 a 2016). Santa Casa, Hospital Aroldo Tourinho, Fundação Dílson Godinho de Quadros (antigo Hospital São Lucas), Pronto Atendimento Alfeu Gonçalves de Quadros, Prontocor, postos de saúde e clínicas particulares se digladiavam com Ruy Muniz por verbas do mesmo SUS que criticam. O prefeito de 2013 a 2016 construía, surrupiando verbas públicas, o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro da Silveira, no Bairro Amazonas, sempre anonimamente.

O diretor-administrativo do Prontomente repete que a dívida da clínica ultrapassa os R$ 1 milhão. “A receita do Prontomente, nós trabalhamos com um valor de produção nossa que é chamada um agá mais uma complementação de R$ 22 mil do tesouro municipal. O que acontece é o seguinte: isso aí gera mais ou menos um faturamento de 120 poucos mil reais mês e isso é insuficiente para fazer frente às nossas despesas, sem contar que isso aí tá incluído honorário médico. Não é só a questão do hospital. Acontece que, em 2011, o valor da Prefeitura deixou de ser repassado ao hospital Prontomente e nós acumulamos aí um déficit de quase R$ 300 mil. Para uma instituição que tem um faturamento de 100 e poucos mil é muito dinheiro. E o que acontece é o seguinte: nós tivemos que fazer algumas paradas de internação, alguns movimentos paredistas, em 2012, pra receber esse valor que nos era devido pela Prefeitura. E ao fazermos esse movimento paredista, a coisa entra num círculo vicioso porque você deixa de internar, e em deixando de internar, você deixa de faturar. Então, obviamente, você começa a faturar menos e aí a dívida só vai num crescente. Então chegou a um ponto que inviabilizou o funcionamento do hospital”, lamenta.

No grupo do facebook “Tripulantes da Máquina do Tempo”, Fátima Claret Andrade pergunta se “por favor, essa clínica era dirigida pelo dr. Aflio Mendes de Aguiar? Tenho quase certeza que é ela. Eu era criança e a primeira vez que ouvi falar nela foi quando meu cunhado ficou internado lá. Eu a conhecia como a clínica do dr. Aflio”, recorda ao se referir à Casa de Saúde Santa Catarina Aflio Mendes Aguiar que funcionou sob o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) de número 22.660.781/0001-83, razão social denominada Aflio Mendes Aguiar e nome fantasia descrita como Casa de Saúde Santa Catarina, inaugurada em 26 de agosto de 1966, tipo matriz, situação baixada, natureza jurídica como empresário (individual), com localização à Rua Santa Catarina, 42, Bairro Santa Rita, CEP 39.400-395.

Fernando Sancho ainda complementa no grupo “Tripulantes da Máquina do Tempo”. “Sou mestre de obras. Nos anos de 1970 a 1980, fizemos uma puxada para ampliação do mesmo. Como disse o amigo, muitas coisas impublicáveis e tristes”, concorda. “Tive um parente que foi internado lá e, umas quatro horas depois, já tinha fugido e escondeu-se em outra cidade”, menciona Sales Neves Rosa.

Em um dos textos do livro “Rua de Baixo: o passado reencontrado”, de Fabiano Lopes de Paula, Adriana Lopes de Paula Andrade, Bernadete Versiani Santos e Virgínia Abreu de Paula, narra-se que o prefeito de Montes Claros, Antônio Teixeira de Carvalho (Dr. Santos) mandou mudar o nome do filho só porque se assemelhava a um nome de um negro. Foi Antônio Teixeira de Carvalho que inaugurou em 05 de julho de 1932, dia de seu aniversário, o Sanatório Santa Terezinha, mais tarde convertido em hospital. Inicialmente projetado para cuidar de pacientes tuberculosos, a casa rosada do Sanatório Santa Terezinha funcionou na esquina das ruas Dr. Veloso com Dom João Pimenta, centro de MOC-MG, até a década de 1990. “A pobreza não humilha ninguém; fortalece e exalta. Anatole France sempre agradeceu ao destino que o fez nascer pobre. A pobreza, diz o Mestre, é o anjo de Jacob: obriga aqueles que ele ama a lutar na sombra consigo e eles saem da luta com o sangue mais vivo, com o dorso mais ágil, com os braços mais fortes”, discursa Dr. Santos na cerimônia de posse da inauguração. Está registrado no livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, organizado e escrito pelo médico, historiador e folclorista Hermes Augusto de Paula, segunda edição em três volumes, 1979, páginas 253 a 258.

Participante do grupo fundador da Renovação Carismática Católica (RCC) na Arquidiocese de Montes Claros, Margarida Maria Quintino de Quadros (1934-2007) estudou no Rio de Janeiro e Juiz de Fora, e formou-se em Farmácia em dezembro de 1964. Foi presa pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 09 de abril de 1965. Ainda ajudaria a fundar em 1987 o Conselho Diocesano de Leigos (Codile), hoje Conselho Arquidiocesano de Leigos (Coarle), que teve como participantes Celeida Bernardes de Oliveira Abreu (de MOC-MG) e José Luiz Nunes (de Janaúba-MG) no 1º Encontro Nacional de Leigos e Leigas em Mariápolis, São Paulo, a partir de 07 de agosto de 1987. Foram e são ativas no Coarle Sônia Gomes de Oliveira, Flávia Araújo de Almeida, Minercina Cardoso da Silva, Celecina Rodrigues Madureira, Maria Claret Martins, Marcos André Ferreira de Oliveira, dentre outros.

Margarida Maria Quintino de Quadros, Margot, dava graças a Deus pela demolição do Sanatório Santa Terezinha. Para ela, aquilo ali era um hospital de loucos. Nascida no povoado Atoleiro, em Rio Pardo de Minas, no dia 24 de março de 1950, do casal Paulo Alves de Araújo e Maria de Jesus, a negra Laurita Alves de Araújo trabalhou 27 anos na Arquidiocese de Montes Claros, no Seminário Maior Imaculado Coração de Maria, no Hospital Santa Terezinha, na Fundação Dílson Godinho de Quadros e na Santa Casa de MOC. “Passava roupa no São Lucas com o ferro elétrico. No Hospital Santa Terezinha, pra gente descer as escadas com os pacientes para a parte de baixo, a gente descia com os pacientes na maca, na mão. Não tinha recursos”, faz memória. 

terça-feira, 9 de junho de 2020

34º Psiu Poético exalta dança e palavra

O Grupo de Literatura e Teatro Transa Poética, em parceria com a Prefeitura de Montes Claros, abriu inscrições, de 09 de junho a 31 de julho de 2020, para o 34º Festival de Arte Contemporânea Psiu Poético. Interessados devem enviar seus textos poéticos para os e-mails psiupoetico@gmail.com e psiupoetico.cinema@gmail.com. Este ano serão aceitos de um a três poemas. Os textos devem ser enviados em PDF, DOCx ou DOC. É obrigatória a identificação do autor no poema.

O artista interessado em inscrever um trabalho em vídeo deverá enviar o mesmo para psiupoetico.cinema@gmail.com com permissão de acesso. Os trabalhos audiovisuais devem ter duração de um a 10 minutos. Se o material exceder 25 megabytes, é necessário  o compartilhamento do mesmo através de plataformas não-pagas, tais como iTransfer, WeTransfer e Send-file. Poderão participar poetas e artistas de qualquer parte do país.

Neste ano, por causa da pandemia do Sars-Cov-2 desde dezembro de 2019, o 34º Festival de Arte Contemporânea Psiu Poético, que terá como tema “DançaPalavra”, acontecerá de maneira virtual, através das plataformas digitais, redes sociais do Psiu Poético e YouTube. O  evento está agendado para acontecer de 04 a 12 de outubro, como acontece desde 1987, e seu propósito é celebrar a poesia e promover o encontro, desta vez, virtual, de poetas, dançarinos, escritores e artistas de todos os lugares do mundo no mais longo Salão Nacional de Poesia que se tem notícia internacionalmente.

Texto: Hélder Maurício


Felicidade

Felicidade
Ao centro, Gilmar Gusmão participa do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético de 04 a 12 de outubro de 2017 no Centro Cultural Hermes de Paula em MOC-MG

Resistência

Resistência
Gilmar Gusmão declama poesia em escola estadual durante Salão Nacional de Poesia Psiu Poético

Seriedade

Seriedade
Antônio Gilmar Maia Gusmão ministra palestra sobre medicina natural na Pastoral do Menor

Característica

Característica
Gesto típico de Antônio Gilmar Maia Gusmão

Preocupação Social

Preocupação Social
Antônio Gilmar Maia Gusmão visita Pastoral do Menor (Rua Januária, 387/Fundos, Centro de MOC-MG)