Frase

"(...) Quem vai no chão de fábrica compreende melhor o que está acontecendo. Nada melhor do que conversar, escutar e olhar nos olhos de quem foi diretamente afetado (...)" Romeu Zema Neto, governador do Estado de Minas Gerais, durante o lançamento da Campanha S.O.S. Chuva 2023-2024, a respeito dos atingidos por tragédias consideradas naturais na sociedade capitalista, como chuvas em áreas urbanizadas, rompimentos de barragens de rejeitos minerários e coronavírus

sábado, 22 de agosto de 2020

Governo federal pretende construir barragem em área de preservação ambiental que afetará cinco estados brasileiros

Na quarta-feira, 19 de agosto de 2020, movimentos sociais promoveram debate online sobre a construção de mais uma usina hidroelétrica: a Barragem de Formoso, em Pirapora e Buritizeiro, no Norte de Minas Gerais, e que atingirá outros quatro municípios, como Três Marias e Lassance. O frei carmelita Gilvander Luís Moreira postou a discussão no www.youtube.com sob o título "Em Defesa do Velho Chico, Não à Barragem de Formoso!". O vídeo tem duas horas, sete minutos e cinco segundos e gerou 750 visualizações. 

Da Articulação Popular São Francisco Vivo, em Sergipe, Divaneide Souza, participou do debate e comentou que a região do baixo Rio São Francisco é afetada por esses empreendimentos comerciais que são as construções de barragens. O Estado Burguês desapropria as terras dos atingidos, reassenta-os ou indeniza-os muito precariamente. Estes acabam vendendo a terra para terceiros especuladores e vão aumentar a mão-de-obra barata nas cidades. "Tudo que vier feito no rio de forma irresponsável nos impacta. Estamos sem água para consumo humano", denuncia a liderança que critica o agronegócio e a ameaça nuclear em Itacuruba, Pernambuco. 

Essas obras na roça e em cidades pequenas aumentam o índice de depressão e hipertensão dos moradores "que tiveram de deixar sua terra sagrada", aponta Divaneide Souza. A ordem de serviço da Barragem de Formoso é de 2010. "A Codevasf [Companhia dos Vales do São Francisco e Parnaíba] nos espreme", afirma a articuladora ao explicar que a Codevasf desapropria terras de famílias rurais, loteia-as e vende-as mais barato a empresários. É a grilagem institucional burguesa através de empresas públicas. 

Da Comissão Pastoral da Terra do Norte de Minas Gerais, o engenheiro agrônomo Alexandre Gonçalves (Alemão) também esteve presente no debate. Ele é de São Paulo/SP. É corinthiano. Mas se apaixonou pela cultura ribeirinha. Ele considera que os pescadores dependem da dinâmica do Rio São Francisco. Para ele, os processos de licenciamentos ambientais de barragens são fraudulentos. Estão até querendo fazer processos remotos, ou seja, através da internet. Barragens beneficiam meia dúzia de empresários. Se for construído, o reservatório de Formoso não aumentará a jusante de Sobradinho, vai diminuir a quantidade de água disponível, citou estudo do professor José Patrocínio. "Água para a vida e não para a morte", manifestou-se Alemão. 

Do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) de Buritizeiro, o vazanteiro Clarindo Pereira dos Santos participou da mesa online "Em Defesa do Velho Chico, Não à Barragem de Formoso!". Ele foi criado às margens do Rio São Francisco. "Sou pescador. O Rio São Francisco sofre até hoje o impacto da Barragem de Três Marias. Os afluentes ajudam na recuperação de rios", observa Clarindo dos Santos ao sublinhar que a construção da Barragem de Formoso afetará a sobrevivência de milhares de famílias que dependem do rio. O agronegócio mata os rios com os seus agrotóxicos. "Nós dependemos do Rio São Francisco", adverte o ribeirinho. "Lá na Serra da Canastra nasce o Rio São Francisco que vai levando vidas para os estados que dele sobrevivem. Eles ficam com o lucro e nós ficamos com o luto", analisa.    

Outros participantes da roda de conversa virtual foram o casal militante da entidade "Velho Chico Vive", Pedro Melo e Lídia Botelho, advogada. "A Barragem de Formoso será um pouco menor do que a de Três Marias. Estão pensando em construir uma barragem em Área de Preservação Ambiental (APP)", denuncia Lídia Botelho. É proibida a construção de barragens nessas áreas. Serão impactados seis municípios. Sítios arqueológicos, comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas), bens históricos locais, fauna e flora correm risco de desaparecer, alerta a advogada. 

De Buritizeiro, a militante do Conselho de Pastoral de Pescadores (CPP), Laís Cristina, foi outra participante da roda de conversa virtual. "Alegam que vai ser bom para as comunidades, mas nem esclarecem os atingidos por barragens", declara a ativista. Em 2018, legislação burguesa aprovou corte de buritizeiro para barramento de água. O buritizeiro demora 500 anos para crescer, acumula água internamente e ajuda a matar a sede da população sertaneja, acrescenta. Os governos burgueses desejam deixar no esquecimento as comunidades tradicionais e ainda criminalizá-las, expõe. "O capital toma os espaços e impede os peixes de alcançar as cabeceiras por causa dos barramentos", reforça. Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas serão os estados atingidos pela Barragem de Formoso. Todos os projetos burgueses de lei de governos liberais são para assassinar os rios, canalizá-los e transformá-los em esgoto. "A Barragem de Formoso é altamente arriscada", pensa Laís Cristina ao mencionar que reintegrações de posse acontecem em áreas já reintegradas. 

O carmelita frei Gilvander Luís Moreira mediou o encontro online. "Não vamos permitir mais nenhuma barragem no Velho Chico", sentencia. Ele fez memória aos seis anos de falecimento do pedreiro do Edifício Montes Claros e fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Norte de Minas Gerais, Alvimar Ribeiro dos Santos (13/07/1954-19/08/2016). O engenheiro agrônomo Alexandre Gonçalves (Alemão) recorda que conviveu com Alvimar dos Santos durante 11 anos. "A reforma agrária vai nascer, mas ela vem do conflito de sangue", cita o militante da CPT o seu avô, em vídeo mostrado por frei Gilvander. No vídeo, Alvimar Ribeiro dos Santos também menciona que o primeiro 1º de maio que aconteceu em MOC-MG partiu dos movimentos sociais. Ele costumava declarar que "a maior fabricadora de sem-terras é a construção de barragens".  

Apenas o prefeito de Buritizeiro, Jorge Humberto Rodrigues, do Partido da Mobilização Nacional (PMN), posicionou-se a favor da Barragem de Formoso. Projetos de construção de barragens representam ganhos só para o dono a outorga. "Barragem não pode ser feita. Governo só pensa em dinheiro. Não pensa na pessoa que mora na beira do rio", comenta Waldir Alves durante a roda de conversa online. "Que eles pensem nas famílias que ali residem. Não à Barragem de Formoso", apoia Mônica Veloso os movimentos sociais nos comentários. Eulina Magalhães Caetano revela que nasceu na barranca do rio que viu nascer os pais, avôs e bisavôs dela. Maria Eugênia Bastos Diniz recorda que "Pirapora foi capaz de expulsar a ordem franciscana que praticamente nasceu na cidade" e defendia o social e o meio ambiente. "Na época da Ditadura que a Codevasf deu as terras", lembra. Desde a década de 1980 que o Rio São Francisco sofre com barramentos, insiste outro participante dos comentários do debate. 

"Olha, na foz de Formoso, colocaram uma placa proibindo acampar", informa Josemar Alves Durães. Cuidar do rio é cuidar da própria vida. Energia para que e para quem?, deve-se questionar. "A gente não quer mais barragem no Rio São Francisco. O Rio São Francisco precisa ser revitalizado. É luta, gente. Luta que segue. Rio São Francisco Vivo", protestam os movimentos sociais. O engenheiro agrônomo Alexandre Gonçalves aponta para os problemas sociais que serão gerados para a construção de mais um barramento: a retirada das famílias que vivem na região de Formoso, o impacto na dinâmica das cheias dos rios e a pressão muito grande sobre os serviços públicos de saúde e educação. O processo é kafkaniano, complicado e ilegal. Não é legítima, ou seja, a população não o apoia. 

O governador do velho Partido Novo, Romeu Zema, deseja privatizar a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), foi outro assunto discutido na roda de conversa virtual. Milhões de trabalhadores são atingidos por barragens no Brasil inteiro. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) não param de crescer. "Basta de barragens! Tem que frear o progresso econômico e envolver socialmente as pessoas. São Francisco Vivo! Terra e Água! Rio e Povo! É preciso defender o Velho Chico, o Nordeste e o Brasil", sinalizam os movimentos sociais. O grupo musical "Aroeira", de MOC-MG, e o fotógrafo João Zinclar foram citados ao final da roda de conversa online. Da entidade "Velho Chico Vive", Pedro Melo cantou a música "Brasil Lameiro: Tragédia de Brumadinho". A mineração arrasou Brumadinho em 25 de janeiro de 2019. Em 05 de novembro de 2015, a cidade mineira de Mariana era massacrada pela mesma mineração predatória. 

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