Frase

"(...) Quem vai no chão de fábrica compreende melhor o que está acontecendo. Nada melhor do que conversar, escutar e olhar nos olhos de quem foi diretamente afetado (...)" Romeu Zema Neto, governador do Estado de Minas Gerais, durante o lançamento da Campanha S.O.S. Chuva 2023-2024, a respeito dos atingidos por tragédias consideradas naturais na sociedade capitalista, como chuvas em áreas urbanizadas, rompimentos de barragens de rejeitos minerários e coronavírus

sábado, 12 de dezembro de 2020

O garoto Aroldo completa 60 anos

Outubro chega e o Salão Nacional de Poesia Psiu Poético garante a resistência social da arte e da cultura. Há 33 anos, sempre de 04 a 12/10, em escolas, praças públicas, mercados, rodoviárias e centros culturais, o maior salão de poesia do Brasil promove a vida plena através da poesia desimpedida. Desde 1987, quando o Grupo de Literatura e Teatro Transa Poética reinventou conceitos artísticos, o Psiu Poético segue quebrando preconceitos e tabus. E na personalidade característica do negro convicto, consciente, operário e funcionário público concursado João Aroldo Pereira está representada toda a luta proletária revolucionária do Psiu Poético. Nascido em 06 de outubro de 1959, em Coração de Jesus, 2019 é o ano dos 60 anos do poeta e agitador cultural performático Aroldo Pereira, que difunde a cultura subversiva de Raimundo Colares e de Arthur Bispo do Rosário na própria pele com mente sã e corpo são.

“Minha consciência política vem desde os 13 anos. Comprava e lia sempre o jornal Movimento e o Pasquim. Adoro andar a pé e de bicicleta. Olhar no olho. Já fui roubado em 19 bicicletas”, conta Aroldo Pereira, sem perder a esperança, suas atitudes muito antes dessas ações serem super-exploradas por organizações não-governamentais, pela mídia grande e pelo mercado capitalista. Andar a pé e de bicicleta hoje em dia é concorrer e arriscar-se no trânsito com os mais de 200 mil veículos automotores que todo dia infestam as ruas e avenidas de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. A velocidade representada pelos ônibus nos quadros artísticos de Raimundo Colares contagia a humanidade e leva o ser humano prestes a ter um ataque cardíaco com tanta pro-atividade. É preciso parar e pensar esclarecida e criticamente para dar lugar ao ócio criativo. A televisão atual está ao alcance das mãos e permite múltiplas possibilidades de entretenimento, nome moderno para cultura pós-moderna.

Durante a Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985), mesmo resistindo e morando em MOC, Aroldo Pereira viajava e participava, no Rio de Janeiro, ao lado dos companheiros Elthomar Santoro Júnior (sempre em companhia de um baseado, apesar de pressionado pelo regime de exceção), Sérgio Zuba, Lafetá, Edvaldo (Diva) e Francisbel, do grupo de punk-rock “Atak Cardíaco”. O nome é por causa do seu irmão Sebastião Nélson, que morreu de ataque cardíaco e era um amante do punk-rock. A banda se apresentou na Sessão da Meia-Noite do Teatro Opinião, administrado pelo poeta e dramaturgo João das Neves. Na época vocalista do “Barão Vermelho”, Cazuza foi sua plateia. Antes de se chamar “Ataq Cardíaco”, o grupo se definia como “Cometas Malditos” e “Aranhas de Marte”. Aroldo Pereira preferia ficar perambulando entre Montes Claros e Rio de Janeiro em virtude dos jornais e meios de comunicação do período estarem concentrados na antiga capital federal e dessa maneira divulgava mais a cultura regional. 


“Andando pelas ruas da cidade um rock rola na minha cabeça...”. “Nós somos os carinhas que tocam...”. “Moleques irônicos do punk-rock...”. “Eu quero a sorte de um amor tranquilo...”. “É a pegada do punk-rock. É o que a gente tá rememorando. Essa energia dos 16 anos”, anuncia Aroldo Pereira a partir das 20h do dia 05/10, no Teatro Cândido Simões Canela do Centro Cultural Hermes de Paula, a atração “Pancada: Atak Cardíaco”, punk-rock, revival 1976-1979, com os músicos da cena rock montes-clarense “Animal Core”: Yuri Yuck, guitarrista; Marlon Rodrigues, baixista; Charles Helton, baterista; e Aroldo Pereira, vocalista. “Desde os oito anos que tenho influência do punk-rock”, revela o poeta.

Morador do Bairro Operário-Cultural Morrinho, Santo Expedito e Vila Guilhermina, Aroldo Pereira gosta de destacar que é menino do morro, negro, de bairro proletário, admirador apaixonado dos catopês, marujos e caboclinhos. Na Rua do Bomfim, hoje Avenida Leonel Beirão de Jesus, “fazíamos instrumentos de plásticos” para tocar o bom terror na vizinhança. “Cantava em festivais da Escola Estadual Plínio Ribeiro (Escola Normal) e no Colégio Marista São José”, recorda Aroldo Pereira ao cantar a música “Alucárd”, a palavra “drácula” escrita ao contrário. Há três anos, João Aroldo Pereira recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Hoje é a escritora do Bairro Operário-Cultural Morrinho, Amelina Fernandes Chaves, a agraciada com o título.

O idealizador do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético morou no Rio de Janeiro um ano e meio. Conviveu em diversos ambientes desde Ipanema, Morro do Cantagalo e Botafogo. Passeou pela Avenida Atlântida. Frequentou a Galeria Alasca. Andarilhou pela antiga capital monárquica e republicana brasileira. Conheceu Léo Jaime, Frejat, Caetano Veloso, Pablo Peçanha, Nelson Mota e Ezequiel Neves (Zeca Jeaguer). Sua banda de rock favorita sempre foi o Rolling Stones. Sofreu a perseguição da polícia política da Ditadura Militar por causa de seu jeito espontâneo. Sempre andava com os seus documentos de identificação em mãos. Nunca fumou maconha ou qualquer outra droga e caminha com uma garrafinha d’água a tiracolo. Mas sua negritude, seu perfil quixotesco e sua moda simples causavam desconfiança na sociedade nacional civil, estatal e privatizada. Em 1983, houve o espetáculo “Uns”, de Caetano Veloso, no Canecão, Bairro Botafogo, casa cultural hoje extinta. “Antes do governo de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, me paravam toda hora. No início dos anos 1980, Brizola é eleito e sinto a diferença. Senti de forma claríssima a mudança de paradigma”, testemunha. O negro, o índio, a mulher, o favelado eram respeitados.

Editada pela Academia Juvenil de Letras do Norte de Minas Gerais, fundada em 24 de fevereiro de 1973, e impressa pela Gráfica Tekla, a revista “Káthedra” de abril de 1978 traz texto de Aroldo Pereira intitulado “Força Maior” e datado Rio de Janeiro/RJ, 1º de fevereiro de 1978. “Um grito: NÃO!... Primeiro veio o encontro e a espontaneidade em se dar. Aquele sorriso liberto, solto. Encontrou um semblante - ou foi um espelho? - Inerte. Absorto em pensamentos negros. Aquele ser precisava de uma força amiga. E o sorriso puro e largo veio na hora exata. O semblante sofrido ficou encucado com o riso espontâneo. Mas se alegrou ao perceber que ele era amigo. Alguém cantava, alguém discursava, palavras inúteis iam ao ar. Uma criança preta sorria um riso lindo, juvenil. Uma branca criança ria um sorriso juvenil, lindo. Um ser - de maneira gritante - dizia ser racista. Um carro (em velocidade estonteante) bate e morre... Um político se elegia enquanto outro o traía. Um baby nascia e Maria morria. Um garoto afanava porque há muito não se alimentava. Sim. O universo seguia sua rota de cada dia. O riso espontâneo consolava o semblante sofrido. Pelo diálogo levado, eles já eram amigos-amados. Mas pela sociedade reinante, o pobre semblante era um ex-detido. E o riso espontâneo... Ah! Deixe-o como um ingênuo perdido”.

Sábado, 28 de setembro de 2019

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